População e Sociedade n.º 42
Judite Gonçalves de Freitas (diretora)
- Dezembro 2024
Dossier Temático
O Futuro da Europa
Coordenação
Cláudia Toriz Ramos
Isabel Costa LeiteA chamada de trabalhos para o presente dossier temático do n.º 42 da revista do CEPESE “População e Sociedade” tomou como mote o título de um projeto em curso, no referido centro: “O Futuro da Europa”. Mais, partiu da realização do seminário ‘O Parlamento Europeu e as Eleições Europeias de 2024’ (em maio de 2024), numa segunda edição do acompanhamento feito pelo CEPESE às eleições europeias. Se, da edição anterior, resultou um livro editado (O Parlamento Europeu e as Eleições Europeias: Ensaios sobre Legitimidade Democrática, 2020), desta feita optou-se por uma chamada de trabalhos aberta que possa refletir visões caleidoscópicas da integração europeia. Os textos que agora são dados à estampa espelham essa diversidade. Por sua vez, para as editoras, tal diversidade é evidência do granulado fino que a integração europeia já logrou atingir, na vida das comunidades nacionais dos seus Estados membros.
Assim, o primeiro conjunto de textos reporta-se às eleições europeias e seu contexto institucional. Paulo Vila Maior analisa a posição do Parlamento Europeu no sistema institucional da União Europeia (UE). No segundo artigo, Fernando Martínez Arribas, Celso Cancela Outeda e Bruno González Cacheda retomam o debate sobre as eleições europeias enquanto eleições de segunda ordem, analisando os casos de Espanha e Portugal. No terceiro texto, Cláudia Toriz Ramos percorre os manifestos eleitorais, evidenciando as ideias aí vertidas sobre a atual conjuntura geopolítica de guerra. No artigo subsequente, Isabel Costa Leite aborda a problemática do alargamento da UE, no atual quadro político. Flávio Silva discute, na sequência, a ordem internacional liberal e o papel da UE, através da sua Estratégia Global Gateway. Num âmbito que cruza as dimensões interna e externa das políticas da União, Abdon de Paula e Judite Gonçalves de Freitas examinam a abordagem aos desastres naturais, pela perspetiva das políticas humanitárias da UE. Já Carla Valadas, ao nível infranacional, trata da temática das Eurocidades, com especial enfoque na sua dimensão de laboratórios colaborativos transfronteiriços. Finalmente, em “Jeux de miroirs”, Cândido Alberto Gomes e João Casqueira transportam-nos para a discussão das relações entre a Europa e a América Latina, num jogo de espelhos que vai do económico ao identitário e do passado ao presente.
No todo, espelham-se o passado, o presente e o futuro da Europa, com seus feitos e seus fantasmas, ancorada em valores, desafiada por crises, desafiando o horizonte. Na lógica das análises multinível, esta malha complexa de temáticas abordadas remete à complexidade das estruturas de governação de tipo I, na nomenclatura de Hooghe e Marks (“Unraveling the Central State, But how? – Types of Multi-Level Governance”, 2003), cuja amplitude temática e coordenação horizontal de políticas as aproxima do modelo complexo da governação dos Estados e indicia por isso uma entidade política sui generis em construção.
Na secção Varia são apresentados cinco artigos sobre diferentes temáticas. Desde a perspetiva sobre o 25 de Abril em Espanha à questão da segurança e do turismo em Cabo Verde; passando pela sociedade em Montemor-o-Novo nos séculos XVIII e XIX, mais especificamente sobre os fidalgos e escravos; até concluirmos com dois artigos que se debruçam sobre as questões culturais (artesanato) e do envelhecimento populacional no Brasil.