População e Sociedade n.º 43
Judite Gonçalves de Freitas (diretora)
- Junho 2025
Dossier Temático
Crises Atuais: Colapso ou Resiliência?
Coordenação
Judite Gonçalves de Freitas
O presente número da revista População e Sociedade tem como tema as “Crises Atuais: Colapso ou Resiliência?”, propondo uma reflexão crítica e fundamentada sobre os múltiplos desafios contemporâneos, marcados pela convergência de crises sistémicas ambientais, económicas, sociais e políticas. Este contexto configura dinâmicas multifacetadas de enorme vulnerabilidade e instabilidade, cuja compreensão exige uma análise rigorosa e interdisciplinar, essencial para a interpretação dos fenómenos sociais e políticos contemporâneos à escala global, regional e local.
Judite Gonçalves de Freitas abre a edição com uma explicação diacrónica do conceito de “crise” desde as suas origens clínicas, filosóficas, doutrinárias e políticas até às interpretações sistémicas atuais, destacando a emergência da “policrise” como condição estrutural permanente, propondo a “crisology” como uma lente interpretativa voltada para a análise das crises no presente. Seguidamente, Luísa Vasconcelos, Sandra Bernardo e Fátima Rocha investigam as limitações dos modelos neoliberais face à “policrise”, defendendo uma governança adaptativa e uma cooperação internacional reforçada, sem retorno ao intervencionismo clássico. Abdon de Paula e Judite Gonçalves de Freitas abordam a crise climática como um cenário complexo e multifacetado, realçando a importância da incorporação dos ecossistemas florestais, terrestres e marinhos, nas políticas de mitigação. A atenção à vigilância em crises de saúde pública associada a desastres climáticos é destacada por João Casqueira, Damaru Paneru, Ana Araújo e Anusha Parajuli, que, a partir do projeto euroasiático Risk-and-Scape, enfatizam a importância da cooperação a nível local e a inovação para a melhoria das respostas a emergências.
Nos estudos sobre deslocações populacionais, Fernando da Cruz Bandeira e Joana Macedo Rocha exploram o conceito de “pessoas em movimento” e respetivas categorias, recorrendo a métodos como a análise de metadados e o text mining, com o objetivo de evidenciar os referenciais teóricos e as abordagens práticas relativas às populações deslocadas. Kátia Lima analisa a narrativa construída pelos meios de comunicação sobre a imigração em Portugal, identificando disparidades entre o discurso mediático e os dados oficiais, e defendendo um jornalismo plural alicerçado em evidências. Ariane Medeiros da Costa e Joana Macedo Rocha, estudando o caso da Síria, salientam a relevância da educação e do apoio humanitário em contextos de vulnerabilidade infantil, destacando o papel de organizações como Save the Children e Hurras Network no fortalecimento da resiliência a situações de crise. Por fim, a edição encerra com uma análise da atual crise política internacional, com Fernando Campos a examinar as implicações da eleição de Donald Trump em 2024 para a segurança europeia e as relações transatlânticas.
A secção Varia apresenta três artigos. Um sobre a migração na contemporaneidade para o Brasil; outro que analisa o papel estratégico da região do Planalto Central de Angola, com destaque para a cidade do Huambo, no contexto da expansão do Império Colonial Português em território angolano; e, por último, um texto que aborda a forma como as mudanças sociais registadas em finais do Antigo Regime influenciaram o poder municipal, mais concretamente a cidade e a Câmara de Elvas.