A obra de Frei José de Santo António Ferreira Vilaça na igreja do antigo Mosteiro do Couto de Cucujães
- 2010
- 20 páginas
O antigo mosteiro beneditino de São Martinho do Couto de Cucujães, situado no concelho e comarca de Oliveira de Azeméis, fundado no século XII, conheceu profundas obras de transformação a partir da primeira metade do século XVII, que se estenderam até ao século XIX. É neste contexto que se insere a obra de Frei José de Santo António Ferreira Vilaça, monge artista que permaneceu no mosteiro, como ele próprio aponta no Livro de Rezam, entre 1792 e 1796. Este monge beneditino constituiu uma figura marcante no quadro da segunda metade do século XVIII bracarense e, enquanto irmão donato, desenvolveu a sua obra em diversos mosteiros da Ordem, sobretudo no domínio da talha e escultura em madeira. As suas realizações podem ser enquadradas em três estilos distintos e apresentam nítidas influências da obra de André Soares e dos códigos estéticos do rocaille, introduzidos em Portugal através das estampas decorativas avulsas, Registos de Santos e da tratadística.
Para a igreja do antigo cenóbio cucujanense, Frei Vilaça riscou dois retábulos colaterais, concluídos no triénio de 1783-1786 e dourados no triénio de 1792-1795. Realiza ainda a monumental sanefa do arco cruzeiro, concebida no triénio de 1792- 1795, pintada e dourada no triénio de 1795-1798 que, juntamente com os retábulos colaterais, insere-se no terceiro estilo desenvolvido pelo artista. Para o exterior do mosteiro, Frei Vilaça riscou a fachada principal, iniciada no triénio de 1792-1795 e concluída no triénio de 1795-1798. Estas obras constituem um conjunto que apresenta influências dos tratados que o monge artista possuía na sua biblioteca pessoal, sobretudo os de Charles-Augustin Aviler e Andrea Pozzo, e das estampas avulsas com motivos Rococó, nomeadamente as oriundas de Augsburgo.
Estes factos permitem concluir que, apesar da situação ‘periférica’ do antigo Mosteiro de São Martinho do Couto de Cucujães, quando comparado com a localização de outros mosteiros e igrejas onde Frei José de Santo António Ferreira Vilaça laborou, as obras deste monge artista que ele encerra, materializam a base erudita que está por trás da sua concepção e o génio artístico do seu autor.