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O tesouro medieval da Santa Casa da Misericórdia de Setúbal – uma herança preservada

Ana Cristina Correia de Sousa
2011
16 páginas

A Santa Casa da Misericórdia de Setúbal é proprietária de três peças de ourivesaria gótica de grande interesse artístico e histórico que pertenceram à Confraria e Hospital de Nossa Senhora da Anunciada e que se encontram actualmente em depósito e expostas no Museu de Setúbal / Convento de Jesus. Ao longo de quase quatro séculos, os irmãos da Confraria lutaram pela sua afirmação e autonomia local, procurando impedir a anexação do seu hospital pela Misericórdia da Setúbal, o que veio, de facto, a verificar-se, em 1869. A história desta resistência afectou, necessariamente, o destino do seu rico tesouro e explica, talvez em parte, a sobrevivência destes três objectos sacros de grande significado social, económico e simbólico: uma cruz de prata e cristal da rocha oferecida pelo rei D. João II com o seu estojo de couro, um rico cálice de prata dourado e um relicário mandado fazer, de acordo com a tradição, por D. Manuel I, irmão da Confraria, que expõe uma relíquia do Santo Lenho e a pequena imagem de Nossa Senhora com o Menino, na qual radicam as origens lendárias da cidade: a estatueta de madeira recolhida por uma pobre mulher numa praia do Troino que, prodigiosamente, escapou ao fogo da lareira de uma humilde casa deste lugarejo. A primeira associação confraternal de Setúbal nasceu a partir de um milagre e, estas três peças que lhe pertenceram, materializam e perpetuam a memória do seu magnífico passado.


Palavras-chave: Arte gótica, Ourivesaria, Misericórdia de Setúbal