O papel do biólogo Júlio Augusto Henriques na Conservação e Restauro no Romantismo Português
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Devido a um profundo desconhecimento geral da História da Conservação e Restauro em Portugal, é frequentemente transmitido que a área é recente no nosso país, o que não corresponde à verdade. Apesar dos bens culturais serem preservados, conservados e restaurados segundo filosofias, técnicas, condições e necessidades muito diferentes dos actuais, não se pode ignorar os primórdios e a evolução desta disciplina. Na verdade, a Conservação e Restauro terá acompanhado a História da Humanidade, a partir do momento
em que o Homem sentiu a necessidade de preservar determinados objectos pelo seu valor simbólico, identitário, político, social ou religioso. As profissões não estavam diferenciadas e, como regra geral, quem fazia também restaurava, fossem eles artesãos ou artistas, principalmente pintores. No século XVIII, apareceram tratados com receitas que circulavam por toda a Europa, mas no século seguinte apareceram já publicações específicas
mais consistentes. Com a criação do Depósito das Livrarias dos Extintos Conventos em 1834 e instituição da Academia de Belas Artes de Lisboa em 1836, nasceu um núcleo de restauradores, especialmente de Pintura, que deu sequencialmente origem a vários organismos oficiosos e oficiais responsáveis pela Conservação e Restauro na Administração Pública, até aos dias de hoje: a oficina de Restauro do Museu Nacional de Arte Antiga (1911-1936), o Instituto para o Exame e Restauro de Obras de Arte (1936-1965), o Instituto José de Figueiredo (1965-2000), o Instituto Português de Conservação e Restauro (2000-2007), o Departamento de Conservação e Restauro e Departamento de Estudos de Materiais do Instituto dos Museus e da Conservação (2007-2012) e o actual Laboratório José de Figueiredo da Direcção-Geral do Património Cultural (2012-). O interesse pela materialidade dos bens culturais em Portugal iniciou-se no final do século XIX. Júlio Henriques (1838-1928), director do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra e Professor Catedrático da universidade, foi um dos primeiros interessados. Ele analisou as espécies da madeira dos suportes de pinturas, iniciando-se precisamente nos Açores, com o tríptico de Santo André da Igreja de Nossa Senhora da Estrela, da Ribeira Grande. Dois anos depois, analisou os suportes do painel do Fons Vitae da Igreja da Misericórdia do Porto (1897) e do painel de São Pedro, de Grão Vasco, da Sé de Viseu. Para tal, teve a preciosa colaboração
de Sylvester Rosa Koehler (1837-1900), curador de estampas do Boston Fine Art Museum, que passou pelos Açores em viagem, e do Coronel Francisco Afonso Chaves (1857-1926), botânico amador açoriano, entre muitas outras actividades que teve.