Ofícios da arte da cartografia portuguesa nos séculos XVII e XVIII
- 2007
- 10 páginas
Ao olhar rememorado da infância de um geógrafo eminente 2, ao olhar de um turista contemporâneo instruído ou de um coleccionador apaixonado, como a tantas outras, a cartografia concede imagens, provoca fascínio e alimenta viagens imaginárias anteriores a possíveis viagens reais, nas quais se reforçarão, atenuarão ou, simplesmente, frustrarão as imaginações antes conquistadas. Com a cartografia são criadas visões do passado, do presente ou do futuro de determinadas porções do espaço. Entretanto, esses documentos não tratam apenas das dinâmicas históricas e geopolíticas ou da descrição, pura e simples, de fenómenos geográficos. Os documentos cartográficos tratam da construção de expectativas, desejos, sonhos pessoais e colectivos, daí que a representação de natureza plástica, visual, que comporta permite acesso a pessoas e a estruturas de saberes diversos e socialmente construídos. Eles registam visões e devolvem ao olhar informações não deixando de embargar, entravar, contrariar a percepção do real pela forma própria de narrar, por meio dos processos técnicos que empregam e pelos símbolos que apresentam com formas construídas historicamente. Talvez por isso a apreciação destes documentos mereça atenção em investigações que se detenham na dinâmica de fenómenos estéticos e sociais de longa duração.