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O buril e paleta. Santo Inácio de Loiola nas pinturas da sacristia da igreja dos jesuítas, em Bragança

Luís Alexandre Rodrigues
2010
18 páginas

Destacando-se na defesa e aplicação das medidas aprovadas no Concílio de Trento, os membros da Companhia de Jesus cedo perceberam a importância da arte na difusão daqueles valores e do seu alcance no reforço do culto dos santos. A conveniência destes serem apresentados como regra e modelo ideal levou a que dos prelos tivessem saído numerosas gravuras e folhas volantes com o propósito de divulgarem a trajectória de vida e os prodígios operados. Atenta e interessada em todos os desenvolvimentos que pudessem engrandecer a Companhia e especialmente a santidade de Inácio de Loiola fixaram-se os principais marcos de vida e, seguindo o texto de Pedro de Ribadeneira, o primeiro biógrafo oficial, Jerónimo Wierix produziu (c.1590) os primeiros conjuntos de estampas que possibilitavam a multiplicação do fenómeno devocional.

Tendo igualmente em vista a sua beatificação, celebrada em 1609, organizou-se uma obra composta por algumas dezenas de gravuras que, se exemplificavam a forma como a redenção do antigo soldado coroava a renúncia às vaidades do mundo, também se inscrevem na tendência barroca de interferência nos sentimentos religiosos a fim de se potenciarem os seus efeitos e de se provocar o seu desdobramento na esfera do público.

Para nós, as gravuras da Vita Beati P. Ignatii Loiolae Societatis Iesu Fundatoris são especialmente significativas por terem servido de modelo às pinturas do espaldar do arcaz e tecto da sacristia da igreja dos Jesuítas de Bragança, um programa narrativo de exaltação da vida ascética, da oração e do espírito de serviço. Independentemente do seu valor estético, este conjunto de tábuas testemunha como as obras de arte muitas vezes se constroem sobre uma base precedente, permitindo-nos igualmente questionar o conceito de originalidade no século XVII.