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O cabido de Viseu: dinâmica de encomendas no período de Sede Vacante (1720-1740)

Maria de Fátima Eusébio
2010
14 páginas

O edifício da Catedral de Viseu constitui um repositório de diferentes sintaxes estilísticas que ao longo dos séculos lhe foram sendo incorporadas por iniciativa dos bispos, do cabido, das irmandades e de particulares. Contudo, a intervenção realizada no período de Sé vaga, ocorrido entre 1720 e 1741, assumiu um alcance mais significativo e marcou absolutamente a fisionomia e a ambiência do edifício. O cabido, aproveitando o facto de assumir as responsabilidades na administração dos recursos da Mitra, empreendeu com total liberdade um projecto de profunda reforma do edifício catedralício, abrindo-o às formas artísticas do barroco, com o objectivo claramente definido de o modernizar.

O programa de intervenção contemplou os diversos espaços da Sé e o recurso a várias tipologias artísticas: arquitectura, pintura, escultura, talha dourada e policromada, azulejaria, paramentaria, livros e alfaias litúrgicas. Para a concretização das obras foram contratados mestres de diferentes partes do reino, alguns dos quais escolhidos entre os mais reconhecidos no seu ofício. A relação contratual estabelecida entre o cabido e os artistas desenvolveu-se num quadro de significativa exigência, como se pode depreender dos requisitos dos contratos e das reclamações em fase de entrega da obra.

Neste processo de reforma da sé de Viseu presencia-se uma manifesta influência da intervenção encetada pelo cabido da Catedral do Porto, igualmente em período de Sé vaga. O cabido viseense pretendeu que a sua Sé, localizada numa cidade de interior, numa diocese mais pobre e longe das grandes oficinas de artistas, fosse dotada com obras com a grandiosidade e a qualidade das existentes em outros espaços religiosos do reino, como o congénere do Porto.